A história de João Henrique Areias no futebol é tão longa que já rendeu até livro. Considerado o precursor do Marketing Esportivo no país, ele vem atuando como consultor da JC2 Esportes no projeto de profissionalização da empresa.

A nossa equipe conversou com ele para conhecer um pouco mais de sua experiência e do curso que ele vem oferecendo, que conta com todos os diretores da JC2 como alunos.

Confira:

 

Como se iniciou a sua trajetória no marketing esportivo?

Minha história com o esporte começou em 1987, quando fui convidado pelo então presidente do Flamengo, Márcio Braga, para ser vice-presidente de marketing. Na época, comecei como voluntário, trabalhava durante o dia na IBM e no fim da tarde pra noite no clube, sem receber. Naquele ano, em junho, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) disse que não tinha dinheiro pra bancar o Campeonato Brasileiro, como vinha sendo feito, e sugeriu que fossem jogados somente os regionais

Nesse contexto, então, surgiu o Clube dos 13, que por sua vez criou a Copa União, pra reunir os principais times do país em um campeonato nacional. O grande problema é que eles precisavam conseguir um milhão de dólares para viabilizar o torneio. Foi aí então que o Márcio Braga me pediu para elaborar um projeto de patrocínio para Copa.

O meu grande desafio foi convencer os clubes a venderem os direitos de transmissão para a TV, pois a cultura, na época, é que isso esvaziava os estádios, então só eram transmitidas as finais, que tinham garantia de casa cheia. Após convencê-los, conversamos com as principais emissoras da época e acabamos fechando com a Rede Globo, além de conseguir também o patrocínio da Coca Cola. Assim, então, o primeiro evento esportivo com transmissão regular da televisão do país e, também, o único campeonato do país, até então, bancado cem por cento pela iniciativa privada. Estes fatos são considerados, até hoje, como o surgimento do marketing desportivo por aqui.

A partir disso, então, os clubes e federações passaram a lhe procurar para implementar essa profissionalização?
Exatamente. O case da Copa União serviu para que fizéssemos basicamente a mesma coisa com o basquete, em 1996, quando fizemos o primeiro campeonato da modalidade bancado pela iniciativa privada e transmitido em rede nacional, dessa vez pelo SporTV.

Antes disso, em 1994, através da minha agência de publicidade, fiz um plano para representar a imagem de todos os atletas da Seleção Brasileira que disputou a Copa dos Estados Unidos. As marcas normalmente buscavam só os astros, naquele caso os quatro atacantes: Romário, Bebeto, Raí e Zinho. Consegui, então, convencê-las que se trabalhassem com todos os atletas do grupo iam vender a imagem do espírito de equipe, e tivemos sucesso. Muita gente daquele time diz que isso, inclusive, foi fundamental pra reforçar a união do elenco que viria a conquistar a Copa do Mundo depois de um longo jejum que vivemos.

Trabalhei com a imagem de outros atletas, como o Sávio, que jogou no Flamengo e no Real Madrid, e até mesmo do Pelé, que foi até um episódio que o Sidney Rezende escreveu um artigo sobre mim: “O homem que revolucionou a marca Pelé”. Fora isso tive diversas outras experiências com clubes e federações por todo o país, mais recentemente participando como coordenador da primeira campanha que elegeu o Eduardo Bandeira de Mello no Flamengo e atuando na área comercial da Arena do Grêmio, em Porto Alegre.

Apesar de tudo, é bom ressaltar que, apesar de inédito no Brasil, nada que eu fiz eu inventei. Eu simplesmente adaptei e apliquei a lógica de mercado que já havia fora do país para a nossa realidade.

areias-credito-canal-universidade-do-futebolFOTO: CANAL UNIVERSIDADE DO FUTEBOL

E o curso, como surgiu a ideia?

Estava gravando o repórter Rodrigo Araújo uma entrevista pro Dossiê SporTV e ele me sugeriu escrever um livro com essas histórias. Daí então, junto com o Felipe Auri, também jornalista da Rede Globo, escrevi a “quatro mãos” o Uma Bela Jogada, que foi lançado em 2007, 20 anos depois da Copa União.

A partir disso, de todo o reconhecimento que publicação gerou, me foi sugerido usar criar os cursos, para ajudar as pessoas que se interessavam em entrar nesse mercado. Lancei em 2008 o Curso de Gestão e Marketing Desportivo e de lá pra cá realizamos mais de 20 edições no Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais.

Como pessoas de todas as regiões do país me procuravam, e muitas vezes até mesmo se deslocavam e vinham para cá participar, decidi lançar em uma plataforma online, para facilitar o acesso. Pesquisei os canais de distribuição e comercialização, o mercado que queria atingir, e lancei o Centro de Estudos do Esporte, que é um portal que eu transformei em uma espécie de escola virtual. Onde, além do curso que já ofereço, vou me aprofundar mais em assuntos mais específicos de interesse dos participantes.

No que consiste o curso? O que o participante tem a oportunidade de aprender?

Bem, eu trabalho algumas frentes. O participante tem acesso a e-books, tanto os de minha autoria, como guias que ensinam a realizar propostas de patrocínio, gestão de estádios e outras áreas específicas e um webinar semanal, onde por uma hora eu bato papo e tiro dúvidas. Outra frente também, que julgo muito relevante pro aprendizado, são as visitas guiadas. Recentemente levei alguns alunos, como os próprios diretores da JC2, ao Flamengo, onde puderam conhecer o setor de marketing, conversar com vice-presidente, diretor executivo… Mais pra frente faremos o mesmo com Vasco, Botafogo, Fluminense e, a longo prazo, quem sabe com clubes de outros estados e até mesmo de fora do país, como o Real Madrid, que tenho portas abertas com a atual gestão do time.

Quanto ao aprendizado, eu divido em módulos. O primeiro é a Indústria do Esporte, que tem dois grandes temas: O que é o negócio esporte, ou seja, a busca do torcedor como cliente, planejamento a curto e longo prazo pensando em time, torcida, estádio, centro de treinamento, e Modelo de Gestão, onde falo sobre esse salto recente que os times vem buscando para um modelo mais profissional, a comparação com o amador, que ainda é feito por muitos, e até mesmo podendo ampliar pra parte jurídica e financeira.

Os três módulos seguintes caminham juntos, que é o Mercado, onde ressalto a importância de vocês conhecer, estudar e entender o público para quem você está trabalhando, o Produto, que é onde entro nos três níveis do esporte: o alto rendimento, o esporte educacional, onde está inserido o universitário, e o esporte de participação e lazer, e os Canais, que é por onde você atinge o seu público, que requer também um estudo muito grande para fazer uma escolha certeira.

Eu estou apostando muito nessa área de educação, porque é a oportunidade que eu vejo de deixar um legado, de passar adiante todo o aprendizado e experiência que obtive.

E com essa sua recente aproximação à JC2 e, até mesmo, às Atléticas, como a de Artes e Comunicação da PUC, como você tem visto o mercado do esporte universitário?

Eu sempre falo nos meus cursos que o mercado universitário tem uma característica fantástica, que nenhum outro tem: o seu público é formador de opinião.

De fato, quando eu trabalhava na área de comunicação da IBM, recorrentemente chegava até nós apresentações de patrocínio e afins, e, na maioria das vezes, enviávamos a resposta padrão, negativa. Mas, quando uma dessas envolvia o meio universitário, necessariamente ela passava pela análise duas ou três pessoas antes de ser descartada, pois esse é um público vital para qualquer empresa.

Vejo a JC2 caminhando justamente nesse sentido, de profissionalizar o esporte universitário, torna-lo cada dia maior e melhor. Mesmo com a falta de apoio, a empresa já tem um produto consolidado, com um potencial enorme de crescimento, por exemplo a LUCA. Não só ela, como também os outros torneios que realiza.